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25.12.10

Observando a madrugada do natal

Vi um homem de 51 anos chorar como uma criança. E se não o conhecesse, não seria tão significativo como foi. Lamentava por não ver sua família próxima de si e afirmou várias vezes "vocês não tem ideia do que é pensar em vocês, meus filhos e minha esposa, todas as noites e desejar que estejam próximos de mim".

Nesse momento vejo sua esposa se levantar da mesa e dar-lhe um abraço. O filho mais velho, do lado oposto da mesa, de braços cruzados fixa-o com profundidade, com a testa enrugada e a expressão séria, reconhecendo o peso da cena de ver seu pai se abrindo daquele jeito. "Agora sim, ele se apresenta sem máscara", pensou. A filha do senhor, sentada à esquerda da mesa, derrama lágrimas tímidas e descansa o rosto sobre o braço apoiado na pedra fria. Seu choro não é, propriamente, por ver o pai chorar. Sua dor é tão profunda quanto a do pai, mas diferente: sente-se sozinha e incompreendida. Desenha no prato com a colher um tabuleiro de xadrez e permanece em silêncio enquanto escuta: "entristeço-me ao ver você triste e não dizer nada. Isso machuca muito".

Confesso, a cena me sensibilizou. Viver a minha vida é bem difícil, mas se torna pior quando não enxergo o sofrimento do outro. E enxergar esse sofrimento não significa tentar resolver o problema que leva seu próximo a chorar. Mas tentar compreender suas limitações e dificuldades (da mesma forma que reconheço ser eu limitado), além de compartilhar a própria vida nos momentos de tristeza e felicidade.

Ouço a oração do filho em sua mente "Deus, honre esse momento e restaure o que está quebrado". Foi uma oração diferente para uma noite de natal, mas totalmente pertinente. Afinal, o nascimento de Cristo, que é celebrado nesta data, marca no tempo e no espaço a era em que as coisas podem voltar a ser como eram: conduzidas e abençoadas pelo Criador de todas elas.

A mesma oração é repetida pelo filho ainda na mesma madrugada, quando este escuta outro mundo de dor. Não cabe dizer o que ele escutou, por ser muito pessoal a quem disse. No entanto o sofrimento de quem se derramou em lágrimas o fez se sentir impotente, incapaz de dizer qualquer palavra, certo de que nenhuma seria suficiente. A mesma oração de antes era cabida naquele instante: "Deus, restaure o que está quebrado, pelo seu Filho, que reconcilia contigo todas as coisas".

O "assim seja" desta oração deve ser o "Feliz Natal" que desejamos uns aos outros nessa data. Desejar que as coisas sejam renovadas e restauradas, reconhecendo que isso só é capaz por meio de Cristo, é almejar um Feliz Natal para si e para o outro.

Boas observações. Emocionante até. Espero que as conclusões sejam um prenúncio do que há de vir: restauração.

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