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20.3.08

Ημερολογιο παθος* - Terceiro dia



* Diário (calendário) da paixão

Já haviam se passado alguns dias desde a última vez que escrevi. Hoje é dia 14 do mês Nissan, primeiro dia da festa dos מַצָּה (pães asmos). Recolhemos todos os pães fermentados de manhã e fizemos uma fogueira, como era de costume. E desde então, foi iniciada a preparação para a festividade, que ocorreria a tarde.

Enquanto tudo era preparado, um dos nossos ajudantes foi até o centro da cidade recolher água. Quando voltou, fui até ele, à porta, para ajudá-lo. Neste momento, vieram ao meu encontro dois homens bem conhecidos para mim. Eram discípulos de Yeshua. Fiquei super feliz com a visita deles. Minha alegria transbordou no momento em que eles me perguntaram se o Rabi poderia cear a Pessach junto à minha família e qual poderia ser o local. Não demorei a responder que seria uma honra para mim e os levei a um cenáculo, que possuía mobília e um bom espaço. Um deles foi avisar aos outros enquanto o segundo ficou para me ajudar com o restante dos preparativos.

Ao entardecer, o restante dos discípulos e Yeshua chegaram a minha casa. Minha esposa os conduziu ao espaço separado para a celebração e eu os aguardava no devido local. Eles se assentaram e tiveram uma atitude bem informal. Foi muito interessante. Senti como se minha família crescesse repentinamente. O ambiente era todo familiar. Eu apenas meditava no coração o que ali ocorria.

Naquele momento de festa, Yeshua pediu a palavra. Ele disse que estava muito feliz por celebrar a Pessach com seus discípulos, pois esta seria a ultima vez. Todos ali sabiam que ele falava sobre sua morte. E eu continuava sem entender. "Porque alguém como Yeshua iria se entregar à morte? Ele não fez nada!". Depois disso, ele fez uma coisa inesperada. O ser mais importante naquele instante virou pra mim e me pediu uma vasilia com água e uma bacia. Enquanto eu pegava, pediu a seus discípulos que tirassem as sandálias. E começou a lavar os pés de cada um. Petros achou humilhante a atitude do Nazareno. Acredito que todos esperavam uma explicação e foi isso que ele deu, após ter acabado. Ele disse que todos o chamavam de mestre e senhor e ele realmente o era. Mas mesmo ele sendo senhor, se dispôs a lavar os pés de cada um e cada um deveria fazer o mesmo com o próximo. Amar da mesma forma que ele, o Rabi, os amou. Após ele ter feito e falado essas coisas seu semblante mudou totalmente. De um sorriso sereno e tocante para uma afeição de agonia, como se lamentasse o que iria dizer. "Um de vocês irá me trair". Todos que comiam, engoliram a seco e os que acabaram de levar o cálice à boca engasgaram ao ouvir a afirmação do Rabi. Apenas Yehudhah (Judas), permaneceu normal, sem se assustar com a afirmação do mestre. Simplesmente levou a mão ao prato, do qual Yeshua iria tirar um pedaço de pão. Este pedaço o Rabi molhou e entregou a Yehudhah. Este o questionou "Acaso sou eu?". O Rabi olhou em seus olhos e respondeu positivamente, pedindo para que ele fizesse o que tinha de ser feito o mais rápido possível. Yehudhah saiu da sala no mesmo instante, um pouco alterado.

Durante a maior parte da noite, depois do que aconteceu, o mestre continuo falando sobre amor. Eu não sei como ele conseguiu. Se fosse eu, pararia a celebração naquele instante. Imagina você estar o tempo todo com uma pessoa que iria lhe trair? E o mais cabuloso é lavar os pés dessa pessoa, com amor, como se ele não fosse fazer nada. Isso tudo me marcou muito. E a pergunta soava mais forte ainda. "Porque ele precisaria se entregar?"


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