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16.7.08

sonhos e realidades

Vi minha mente vaguear em meio a alguns sonhos guardados dentro de uma caixa secreta e velha. Nem lembrava que ela ainda existia. Afinal, tanto tempo escondido em um quarto de desesperança...

Começa com um “era uma vez”, um dos meus sonhos, e eu crescido e de barba completa (rs). Abro os olhos e me vejo sentado na varanda da casa, ao lado de minha bela esposa. Vejo o brilho de seus olhos, capazes de ofuscar o sol enquanto sorri e mexe seus cabelos ondulados ao vento. Estava explicado porque me apaixonei por ela. Devolve-me um sorriso e aquele momento se eterniza em minha imaginação.

Em um dos capítulos de meu sonho, vejo correndo meus dois filhos, a mais velha e o mais novo, pela pequena e simples casa no interior de alguma cidade que não consigo decidir. “Parem de correr se não eu chamo o seu pai” é o que eu escuto de minha princesa. Mal sabe ela que sou eu o causador da desordem, o grande comandante do encantado navio Casallar, que envia seus fieis tripulantes em uma fantástica busca pelo tesouro perdido. Vejo-me agraciado em ter encontrado o meu tesouro e, nesse sonho, oro para que meus filhos encontrem essa preciosidade.

Em algumas páginas a frente de meu conto, encontro-me sentado diante de algumas fotos. Uma diversidade delas que revelam meu passado: tanto belo como triste. Entre sorrisos e lagrimas, seleciono a minha vida para ser lembrada em uma das paredes de meu escritório. Começo, com certeza, das mais antigas: eu e minha irmã, deitados no porta-malas do Santana de meu pai. Adorava as doces viagens, mais saborosas que as pipocas que comemos certa vez, no centro de Curitiba ou mais açucaradas que o algodão doce de algum parque maluco da minha cidade. Amava, mesmo que em lembranças de fotos, ser carregado pela minha mãe ainda recém nascido e também das vezes que meu pai se mostrava orgulhoso ao me segurar. Em outra imagem, era possível sentir o gosta amargo da coca-cola que não pude tomar a mais, em uma foto que apareci emburrado. E sorri os sorrisos de quando brincava com alguns óculos escuros, na casa da vovó. Bem mais a frente, pude escolher algumas fotos de abraços e beijos que dava em minha família. Adoro uma em que meu pai enche as bochechas de ar e minha irmã e eu, cada um de um lado, beijamos, sorrindo, seu rosto. Outra muito boa é uma em que vejo minha mãe fazendo um enorme bico para a câmera, dizendo ter os lábios da Angelina Jolie. Sempre me faziam rir as fotos dela. Aliás, não só as fotos...

Em meio a tantas delícias, foi possível a caixa encantada me trazer desencantos. O tesouro que, finalmente havia eu encontrado, vi, na falta de fotos, minha família perder por uns tempos. Meu coração gela, só de pensar em quão longo foi o inverno para meus pais, minha irmã e para mim. Ventos de tristeza entortavam nossas fracas árvores, mas nossas orgulhosas raízes não nos deixavam render aos pés uns dos outros. É realmente triste pensar em um momento totalmente eternizado, porém sem nenhuma bela foto para nos fazer lembrar e sorrir.

(...)

Não consigo ver em meu sonho o que se deu de meu pai e de minha mãe. É quase impossível de acreditar, mas até em sonho a felicidade de vê-los bem parecia distante. Até que olhei para minha realidade. Uma foto meio clichê, contudo a que eu mais gostava de todas. Eu, com uma blusa de bicho grilo azul (rs), minha esposa com sua saia rodada, sua blusa comportada, ao meu lado direito, envolta em meus braços e meus preciosos pendurados, cada um em um de nosso pescoço. Chorei, claro. E tive esperança. Voltei a sonhar de verdade: imaginei-me colocando, no topo de todas as fotos da minha parede, uma imagem recente, no tempo futuro, daquele que era meu pai herói, dando um beijo sincero em minha super mãe e esta sorrindo com felicidade de estar no lugar certo. Sorri, com certeza.

Se o amor é tão forte, que é capaz de iniciar um sonho do nada, porque não seria forte o suficiente de reerguer um antigo, que apenas adormeceu? Sonho com esse tesouro também. E creio que os céus dizem “que seja assim”.


Foto: Lucas Rolim

7 comentários:

Tata - A Moderninha disse...

Olá.
Estava visitando seu pedacinho e adorei.
Beijo grande

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Bárbara Matias disse...

Ei amigo!!!

Que lindo seu sonho....
gostei da sua parede de fotos...
gostei da esperança estampada no texto....chegouame contagiar!!!

Quero ir no seu casamento! =D

Bjim...

Alberto Vieira disse...

Nao deixe as fotos serem apenas um retrato na parede!

GB Silva disse...

Mto forte, principalmente o final. Gostei.
Lembrei de uma musica bonita do Stenio Marcius, Fim de Tarde no Portão:

"O Seu amor é tao forte mais que o inferno e a morte
São torrentes que arrebentam o chão
Mais facil secar os mares,
apagar a estrela antares
que arrancar o amor do seu coração"

Indhiara disse...

E eu chorei lendo esse post. Chorei porque é profundo, chorei porque é bonito, mas principalemte porque é sincero. E diante de tanta beleza e sinceridade só posso torcer, junto contigo, pra que os céus digam "assim seja" para cada um desses belos sonhos.

^^

Dani Lima disse...

Que achado esse blog!
Estou amando.

Anônimo disse...

Oi Luquinha, que lindo esse texto, ele me mostrou o quanto eu preciso sonhar mais! Deixar de ser tão cartesiana e administrativamente planejada! O CF foi muito bom principalmente pq vc estava lá! Um doce abraço!